O nome da nova fase da Lava-Jato é Operação Erga Omnes, expressão latina que significa "contra todos", ou que "a todos atinge". Todos quem? Pode-se deduzir que é uma referência aos presidentes de duas das maiores empreiteiras do Brasil, a Odebrecht e a Andrade Gutierrrez, mas há um subtexto indicando que o significado do nome é mais amplo e mais profundo. E que o alvo final da Operação Lava-Jato é o ex-presidente Lula.
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Com base nas delações premiadas, os investigadores estão montando um quebra-cabeça que fica mais nítido a cada nova fase. Quando ninguém da Odebrecht foi preso antes, a pergunta mais ouvida era: por que não, se é uma das construtoras que mais negócios fez com o governo? A resposta a essa pergunta foi dada nesta sexta-feira: era preciso amarrar melhor as pontas, cercar-se de provas e fechar todos os furos da rede que o juiz Sergio Moro e seus parceiros na Lava-Jato vêm tecendo com paciência de uma Penélope.
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Lula nunca escondeu que viajou para diversos países patrocinado pela Odebrecht. O argumento era de que estava defendendo os interesses do Brasil e usando sua influência para garantir contratos a empresas brasileiras.

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A operação Erga Omnes foi precedida do vazamento de informações sobre patrocínios ao Instituto Lula e de pagamentos milionários da Odebrecht por palestras do ex-presidente.
Os petistas correram para lembrar que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também ganha de empreiteiras para o mesmo fim e que o Instituto FHC recebeu doações milionárias de construtoras. Se "todos" é todos mesmo, é possível que a Lava-jato tente reconstituir as relações das empreiteiras investigadas com o governo FHC, mas o foco está fechado nas gestões petistas, em parte pelo volume de financiamentos concedidos pelo BNDES para obras no Exterior.
Mais até do que o presidente Marcelo Odebrecht, é o diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Alexandrino de Alencar, o homem que pode ajudar a detalhar as relações entre a empresa e os políticos. Afável e envolvente, Alexandrino construiu sólidos laços com o Rio Grande do Sul. Era o homem a quem políticos de diferentes partidos recorriam em busca de contribuições de campanha. Nos últimos anos, a Braskem (uma das empresas do grupo) figurou entre as principais doadoras.
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Na função de diretor de Relações Institucionais, Alexandrino contratou Lula e o acompanhou em viagens ao Exterior. Em 2012, quando o governador Tarso Genro visitou o Porto de Mariel, em Cuba, fez as vezes de anfitrião, já que a obra foi executada pela Odebrecht e financiada pelo BNDES. Também acompanhou a viagem de Tarso à China, em 2013. Era o interlocutor na discussão da parceria para a construção da ERS-010, concorrência realizada na gestão de Yeda Crusius, mas as exigências da empresa não foram aceitas pelo governo petista.