
Chama-se Mauricio Ramos Thomaz, de 50 anos, o homem que entrou com pedido de habeas corpus preventivo para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não fosse preso na Operação Lava-Jato, que apura um esquema de corrupção envolvendo empreiteiras e a Petrobras. Thomaz não é advogado, mas define-se como um "consultor da área jurídica".
- Sou tipo Sherlock Holmes. Quando alguém não consegue resolver alguma coisa, me chama - justificou ele, em entrevista à Rádio Gaúcha, sobre o pedido em favor de Lula.
O Instituto Lula, por meio da assessoria de imprensa, reforçou que o pedido não foi ingressado pela entidade ou por qualquer representante do ex-presidente.
- Eu estou furioso. Estou com uma ressaca danada, porque eu fiquei bebendo até as 6h da manhã e o Lula ainda me faz essa bobagem de me desautorizar - criticou Thomaz.
Ouça a entrevista de Thomaz à Rádio Gaúcha:
Natural do Paraná, ele vive atualmente em Campinas (SP). Sem formação superior, ele tem o costume de apresentar pedidos de habeas corpus envolvendo pessoas que não lhe são próximas. A motivação? Ele diz que "não concorda com injustiças".
Na lista de pessoas para as quais Mauricio já protocolou habeas corpus preventivos estão: Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, preso na Operação Lava Jato; Kátia Rabello e Simone Vasconcellos, condenadas e presas no processo do mensalão; e até mesmo o jornalista Diogo Mainardi. Sobre o pedido feito em relação ao ex-presidente, Mauricio explica:
- Há uma clara injustiça nesse caso da Lava-Jato. Antes eu não estava ligando pra isso. Aí um amigo meu me alertou e eu descobri que o Sérgio Moro tinha fraudado a sentença. E eu posso provar. Ele fraudou a sentença. É impossível você digitar uma sentença de 65 páginas em duas horas. Copiar até pode. Mas digitar não - disse Thomaz.
Questionado pela Rádio Gaúcha se possuía algum vínculo partidário e se isso influenciaria sua decisão pelos pedidos, Mauricio negou e disse que se considera "uma pessoa de esquerda".
- Eu me considero de esquerda. Mesmo assim, não deixei de trabalhar em favor do Diogo Mainardi, sem ganhar nada. Até recebi críticas dos advogados da Abril, que eu já sabia que não iam ganhar o caso. Eu votei no PT nas últimas eleições, mas votei no PSOL para deputado federal - afirmou.
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Pouco antes de conversar com a Rádio Gaúcha, Mauricio contou que havia sido informado por um jornalista sobre uma possível "desautorização" por parte do ex-presidente Lula quanto ao pedido de habeas corpus preventivo impetrado por ele.
ENTREVISTA
ZH conversou por telefone com Maurício Ramos Thomaz.
Você já deve imaginar o assunto da ligação.
Sim, mas eu não esperava, não li nada sobre isso. Não era para ter vazado (o pedido de habeas corpus). Queria que fosse discreto. Isso vai atrapalhar toda minha estratégia de botar pressão no (Sérgio) Moro (juiz da Operação Lava-Jato). Já me contaram que o meu pedido foi negado, agora vou ter que pensar em um agravo ou alguma medida para recorrer. Mas tem armação aí, né? Nunca vi negar de um dia para o outro.
Você tem um histórico de pedidos de habeas corpus. Como aprendeu a fazer o pedido?
Não sou formado. Nunca gostei de Direito, por isso não me interessei em cursar. Tenho facilidade para isso, mas nunca tive vocação. Faz dois anos que não piso num Fórum.
Se lembra quando e qual foi o primeiro habeas corpus?
O primeiro que venci foi para soltar um traficante perigosíssimo da cadeia. Foi em 1997, 1998, não lembro bem.
Mas por quê?
Vou ser sincero. Fui condenado e preso, acho que em 1996 ou 1997, por crime de imprensa em Muzambinho, em Minas Gerais. Eu era jornalista e escrevi várias matérias contra autoridades. Fui o único no Brasil a ser preso pela Lei da Imprensa. Aí fugi da cadeia, e para me vingar, soltei um traficante e a quadrilha dele. Aí, nesse tempo em que fiquei preso, me interessei e fiquei estudando em livros. Quando saí, me vinguei.
Quando surgiu a ideia de entrar com o pedido em favor de Lula?
Foi simples. Já tinha entrado a favor do Nestor Cerveró, e não teve destaque nenhum. Achei que ninguém iria saber dessa (do Lula) também. Um amigo meu leu na mídia que o Lula poderia ser preso, aí estudei o caso e vi que tinha um risco, mesmo que pequeno, disso acontecer. O Moro fez a prisão do Marcelo Odebrecht sem razão nenhuma, então vi que ele podia prender o ex-presidente sem razão nenhuma. Porque ele escreve isso no papel e consegue. E o papel aceita tudo.
E você conhece o Lula?
Conheci o Lula em 1985, mas foi casualmente. Eu apareci no diretório do PT em São Bernardo, como turista, e ele estava lá. Ele apertou a minha mão, mas foi só isso.
Você é ligado ao PT?
Não. Me considero de esquerda, mas não sou petista. Votei no Ivan Valente, do PSOL (para deputado) nas duas últimas eleições. Para presidente votei no Lula e na Dilma, mas se o Lula me desautorizar (com relação ao habeas corpus) vou votar na Luciana Genro. Porque isso (o pedido de libertação preventiva) não o prejudica juridicamente, no máximo politicamente. Se ele me desautorizar, é burrice. Não vou votar em gente burra.
Quanto tempo costuma dedicar a um pedido de habeas corpus?
Eu sou bem rápido. Umas três, quatro horas eu termino. Tinha um tempo que eu fazia muitos pedidos só por fazer, para treinar. Como sou jornalista, consigo fazer o pedido com uma linguagem simples. Isso é uma vantagem
Já está preparando mais algum?
Pretendo terminar o do Marcelo Odebrecht, que já comecei. Vou te dar um dado matemático: no processo dele, há 139 menções à Odebrecht e quatro ao Marcelo. Ou seja, ele está preso pela empresa, não porque fez algo errado. Não precisa ser jurista para ver que tem algo errado nisso. Prende a empresa, não o dono.
Nos comentários nas reportagens sobre o habeas corpus do Lula e nas redes sociais tem muita gente te criticando, dizendo, inclusive, que você é louco. O que tem a dizer sobre isso?
Louco que eu não sou. Eu acho importante dizer que é preciso reagir. As pessoas não podem ficar só criticando e não tomar uma atitude. Eu tomo, isso não é loucura. Ele (Moro) está fazendo coisas erradas, precisa ser punido. Esse cara é perigoso, pode prender qualquer um só porque ele pode. Isso está errado. Estou cansado de ver gente presa ilegalmente, meu trabalho é combater isso. Não tem nada de loucura.