
No mais longos dos dias desde a posse, o da votação dos projetos de aumento do ICMS, o governador José Ivo Sartori saiu da rotina e não foi à academia de ginástica, no BarraShopping Sul.
Chegou cedo ao Palácio Piratini e começou uma sequência de reuniões com deputados aliados, intercalada por telefonemas em busca de apoio à proposta que, se rejeitada, praticamente inviabilizaria seu governo. Só deixou o Piratini no início da madrugada, com uma sensação de alívio que não teve sabor de vitória.
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Aos assessores que o acompanhavam disse uma frase que contrastava com a foto do líder do governo, Alexandre Postal (PMDB), comemorando o resultado com o braço erguido e o punho fechado:
- Não se comemora aumento de impostos. O que temos de comemorar é o fato de a Assembleia reconhecer que, sem o aumento do ICMS, o Rio Grande do Sul se tornaria ingovernável.
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No momento em que o presidente da Assembleia, Edson Brum, anunciou o placar de 27 votos favoráveis e 26 contrários aos projetos que elevam o principal tributo do Estado, Sartori estava na ala residencial do Piratini, acompanhado da mulher, Maria Helena, dos secretários Carlos Búrigo, Márcio Biolchi e Cleber Benvengú, e do chefe de Gabinete, João Carlos Mocelin.
A tensão não se dissipou com a aprovação do projeto o que cria o fundo Ampara RS. Havia o temor de que um dos 27 deputados mudasse de ideia na votação do projeto principal.
A preocupação era procedente. Pela manhã, em reunião com deputados do PP, Sartori soube que só contaria com três dos sete votos. O apoio do PDT foi garantido com o aval à emenda que limitava em três anos o prazo de vigência do aumento.
A ausência de Sérgio Peres (PRB) ajudava o governo, mas era insuficiente para assegurar a aprovação. Sartori almoçou com dois deputados independentes, João Reinelli (PV) e Missionário Volnei (PR). Estava ansioso. Em determinado momento, a pressão arterial, controlada desde 2005 à base de medicamentos, chegou a 15 por 9.
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No meio da tarde, enquanto os deputados da oposição se revezavam na tribuna tentando ganhar tempo para que fosse empossado o suplente Junior Piaia (PC do B), Sartori pediu a um assessor que baixasse o volume da TV, que permaneceu ligada no canal 16.
O governador se dividia entre a sessão, a assinatura de documentos, a conversa com os secretários e os telefonemas. O chefe da Casa Civil, Márcio Biolchi, ia e vinha do Piratini para a Assembleia. O secretário da Fazenda, Giovani Feltes, acompanhava a sessão de seu gabinete.
No meio da tarde soou o alarme: um telefonema avisava que o deputado Mário Jardel (PSD), até então voto certo a favor do aumento, mudara de ideia. Biolchi correu para a Assembleia e teve uma longa conversa com o ex-jogador. Ele resistia. Biolchi ligou para o Piratini e pediu que o próprio Sartori falasse com ele. Jardel prometeu votar a favor, mas ninguém tinha certeza se manteria a palavra.
À noite, quando a fome apertou, Sartori e os assessores foram acompanhar a sessão no Salão de Banquetes, enquanto comiam galeto com massa. De dieta, Búrigo recusou a massa. Sartori comeu e tomou vinho tinto. "Taça grande", na definição de um dos presentes.
Aliviado com a aprovação do primeiro projeto, o grupo acompanhou a tentativa do deputado Adão Villaverde (PT) de virar o voto de Jardel no segundo. Quando o ex­-jogador foi à tribuna reafirmar que votaria a favor porque considerava a aprovação o melhor para o Estado, a tensão diminuiu. Já em casa, Feltes assistia à sessão na cama.
Anunciado o resultado, o grupo reunido no Piratini começou a se dispersar. Na quarta-feira, Jardel foi convidado a almoçar no Piratini.
- Teu voto foi um gol de centroavante - elogiou Sartori.
O dia mais tenso não foi o da votação do ICMS, mas a terça-feira da semana anterior, quando sindicalistas bloquearam os acessos à Assembleia e impediram a entrada de deputados e funcionários.
- Tem gente querendo repetir aqui o que ocorreu no Paraná. Precisamos ter calma - recomendou Sartori aos secretários.
Houve preocupação quando um grupo de manifestantes derrubou as grades e os brigadianos reagiram, mas a avaliação foi de que se conseguiu evitar o pior.