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A prisão do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), deixou o mundo político de Brasília perplexo. Palácio do Planalto, governistas e oposição ainda discutem qual o tom do discurso para tratar da prisão do parlamentar, na manhã desta quarta-feira.
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A inédita decisão do Supremo Tribunal Federal, de autorizar a prisão de um senador, deflagrou uma série de reuniões. Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) discute com aliados e governo como proceder, já que a Casa receberá em 24 horas os autos da prisão e decidirá em plenário se mantém ou não Delcídio detido.
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Renan se reunirá com os líderes nas próximas horas para tomar uma posição oficial sobre o rito da votação. A intenção inicial é não abandonar o colega, parlamentar com trânsito na Casa, porém pesa o temor sobre a repercussão negativa do corporativismo. Alguns senadores entendem que liberar Delcídio poderia ser entendido como uma afronta a Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao STF.
Nos corredores do Senado circula a avaliação de que as acusações da PGR são graves e bem fundamentas. Surpreendeu os parlamentares a alegação de que Delcídio teria oferecido uma mesada e rota de fuga para que o ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, não colaborasse com as investigações da Lava-Jato.
- Estamos todos perplexos. Ninguém imaginava isso - afirmou o senador Paulo Paim (PT-RS).
- Todos ficaram surpresos, mas é saudável um Estado no qual as instituições funcionam - disse Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Senadores influentes, também investigados na Lava-Jato, optaram pelo silêncio. Romero Jucá (PMDB-RR) passou reto diante dos repórteres. Tom de voz baixo e com expressão abatida, Edison Lobão (PMDB-MA) evitou comentar o episódio.
- Desculpem, não quero falar sobre esse assunto.
Líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE) admitiu estar "impactado" com a prisão. Junto, destacou que o governo não tem participação nos fatos narrados pela PGR e defendeu a manutenção das votações do dia, como a sessão do Congresso.
- Não há qualquer envolvimento do governo. Esse fato não pode contaminar a atividade legislativa.
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O Planalto tentará minimizar os danos da prisão. A estratégia é manter a crise no Senado.
A presidente Dilma Rousseff chamou uma reunião com os ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoino (Secretaria de Governo). O palácio aguarda os autos e discute quem assumirá a liderança do governo na vaga de Delcídio. O anúncio deve sair à tarde.
Os deputados petistas se reuniram durante a manhã no gabinete da liderança do partido para discutir a prisão de Delcídio. Os parlamentares evitaram discutir o mérito das suspeitas, apenas avaliaram que a ação foi arbitrária, apesar de ter sido autorizada pelo STF.
- Trata-se de um grave precedentemente para quebra da ordem constitucional - critica Paulo Pimenta (PT-RS).
A bancada do partido indica que a prisão não foi feita em flagrante de crime inafiançável, como prevê a Constituição.
- O Supremo inovou ao dizer que havia um crime permanente para justificar o flagrante. O Supremo está criando uma situação de insegurança jurídica - afirma o deputado Wadih Damous (PT-RJ).