
Preso nesta quarta-feira em Brasília sob acusação de atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato, que apuram fraudes bilionárias na Petrobras e em outras empresas do país, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) entrou para a história da política brasileira ao ser o primeiro senador detido no exercício do mandato. Ex-ministro de Minas e Energia no governo Itamar Franco, em 1994, ele chegou a assinar ficha de filiação no PSDB e teve ligações com o PFL - no seu site oficial, isso é omitido.
Em 2002, com apoio do então governador do Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, elegeu-se ao Senado. Zeca também foi responsável por apresentar o pecuarista José Carlos Bumlai, detido na terça-feira pela Lava-Jato, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no mesmo ano.
Delcídio Amaral nasceu em 1955 em Corumbá (MS) e é formado em engenharia elétrica. Aos 28 anos, liderou a construção da usina hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, e depois trabalhou como diretor da Shell na Holanda. A trajetória bem-sucedida o levou à Eletrosul e ao Conselho de Administração da Vale do Rio Doce. No currículo consta ainda uma passagem pela diretoria de Gás e Energia da Petrobras na crise do apagão, ocorrida entre julho de 2001 e fevereiro de 2002, no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
A conquista da cadeira no Senado aumentou o poder de Delcídio na estatal a ponto de ele indicar e bancar a nomeação de Nestor Cerveró para a diretoria internacional da Petrobras. E foi justamente Cerveró que o colocou na cadeia, já que, com base no depoimento do ex-diretor, a Justiça concluiu de que Delcídio está atrapalhando as investigações da Lava-Jato. Cerveró falou ainda que o senador participou do esquema de desvio de recursos da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
Em 1999, o Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região, com sede em Porto Alegre, condenou Delcídio por crime de improbidade administrativa em ação movida pelo Ministério Público Federal. Segundo a acusação, a Petrobras teria criado uma nova diretoria - de Participações e Desmobilizações - para satisfazer aliados políticos do PMDB, e o cargo seria preenchido por Delcídio. Ele deveria perder os direitos políticos por cinco anos, mas a pena acabou não sendo aplicada.
Antônio Fagundes do Pantanal
Em 2005, Delcídio Amaral ganhou projeção ao presidir a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, cujas investigações levaram à descoberta do esquema criminoso de compra de parlamentares em troca de apoio político conhecido como mensalão. Mesmo estando no PT, ele conduziu a CPI até o fim e foi fortemente criticado pelos seus correligionários, que o acusavam de ser um "tucano" infiltrado.
Após a conclusão das investigações na CPI dos Correios, Delcídio recebeu pesadas críticas no Congresso. Uma delas veio do então deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ), que o chamou de "Judas, traidor, filho da p...!". Graças à atuação firme na CPI, o senador recebeu a alcunha de Antônio Fagundes do Pantanal.
- Surpreendi o PT. Foram dias duríssimos. Minha vida virou um inferno - afirmou ele aos jornalistas à época.
O relatório final da CPI teve 1.857 páginas e dividiu-se no caso dos Correios, no valerioduto e no caso de outras estatais e fundos de pensão. Concluiu-se pelo indiciamento de mais de 100 pessoas, incluindo o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT), o ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares, e o operador do mensalão, Marcos Valério.
Em 2009, Delcídio foi novamente criticado ao votar a favor do então presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no Conselho de Ética. Ele foi um dos três petistas que optaram pelo arquivamento de todas as açoes contra Sarney. Veja abaixo o que ele justificou no Twitter, à época:
Cinco anos depois, Delcídio candidatou-se ao governo do Mato Grosso do Sul, mas foi derrotado no segundo turno por Reinaldo Azambuja (PSDB). Em abril deste ano, a presidente Dilma Rousseff o indicou para a liderança do governo no Senado, considerada estratégica para o Executivo - o parlamentar que ocupa o cargo orienta a base da Presidência a votar em projetos de lei de interesse do governo.