O ônibus-cela conhecido como Trovão Azul passou pelo crivo do Secretário da Segurança Pública (SSP), Cezar Schirmer, e foi liberado para receber apenados nesta quarta-feira. A inspeção, feita pessoalmente na terça, serviu para a aprovação das melhorias realizadas, como pintura, reforma na ventilação e abastecimento de energia elétrica. O coletivo tem capacidade para manter até 30 detentos em três celas, duas com entrada pela parte traseira do veículo, e uma, pela lateral direita.
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Pintadas de branco e com grades nas portas, todas as celas têm luzes no teto e bancos de ferro instalados nas laterais. A carceragem maior fica à esquerda do veículo, com entrada pelos fundos. Para aumentar a ventilação, há pequenos buracos na lataria. Também foi instalado um banheiro químico próximo ao veículo. Ao solicitar o uso aos policiais militares, o preso será escoltado até o local com as algemas.

Na frente, além do banco do motorista, há um espaço vazio, sem grades, e com janelas de vidro. Ali, não há estrutura para abrigar detentos e era destinado a servidores que participavam das operações. Conforme a SSP, o veículo está a serviço do Comando do Policiamento da Capital, comandado pelo coronel Mário Ikeda. O oficial elogiou a medida emergencial apontada pela SSP para terminar com a custódia de presos em viaturas.
– É um veículo com grades, que dificulta a fuga. Antes, as viaturas ficavam expostas ao sol, e tínhamos que deixá-las abertas por causa do calor. O ônibus está em um local fechado, sem acesso do público. Não fica na rua, como as viaturas ficavam. Então, em termos de segurança, melhorou muito. É mais difícil para que ocorra, inclusive, uma tentativa de resgate do preso – disse Ikeda.
O coronel contou que até as 15h30min, apenas um detento precisou ser mantido na carceragem do veículo e por pouco tempo. Depois, ele foi apresentado à Polícia Civil. Conforme a BM, os presos aguardarão no Trovão Azul até abrir vaga nos xadrezes das delegacias.
– Neste primeiro dia está tudo tranquilo. O primeiro preso chegou por volta das 11h30min e não ficou nem uma hora lá. Logo foi encontrada uma vaga para ele (no sistema prisional) – explicou Ikeda.
A Polícia Civil não quis se posicionar alegando, por meio de sua assessoria de imprensa, que a custódia dos presos no ônibus-cela é um estágio anterior ao registro da ocorrência nas delegacias e que, portanto, não cabe ao órgão uma avaliação.
Segundo a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), apesar da superlotação no sistema gaúcho, são encaminhados, diariamente, cerca de 60 pessoas para o cumprimento de pena nos estabelecimentos prisionais. "O trabalho de gerenciamento e monitoramento de novas vagas no sistema prisional seguirá sendo realizado ostensivamente", explicou o órgão.
O Trovão Azul está estacionado em um pavilhão em frente à Academia da Polícia Civil, na Rua Comendador Tavares, no bairro Navegantes, zona norte da Capital, para ser utilizado enquanto são executados os trabalhos para a instalação do Centro de Triagem de presos provisórios no Presídio Central de Porto Alegre. Esta é a primeira das cinco estruturas previstas pelo governo estadual para solucionar a questão da superlotação das carceragens das delegacias de Polícia.

Fabricado em 1985, o veículo Mercedes Benz operou transportando presos por todo o Rio Grande do Sul até 2013, quando foi substituído por um ônibus maior e mais moderno. O coletivo, cedido pela Susepe, foi anunciado no dia 22 deste mês pela SSP como alternativa emergencial para a custódia de presos após depredação de um micro-ônibus da Brigada Militar, no Palácio da Polícia. O ônibus-cela chegou a Porto Alegre no dia seguinte, depois de viajar de Uruguaiana, na Fronteira Oeste, até a Capital.

Entenda as consequências da superlotação dos presídios
19 de outubro
As consequências do caos provocado pela superlotação do Presídio Central e das principais penitenciárias do complexo de Charqueadas, que já afetavam a Polícia Civil, passaram a atingir o policiamento ostensivo. Em 19 de outubro, uma viatura da Brigada Militar (BM) e outra da Guarda Civil de Porto Alegre abrigavam presos, uma vez que as celas da 2ª e da 3ª Delegacias de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) estavam lotadas. Os veículos permaneceram estacionados até a manhã do dia seguinte junto à 3ª DPPA, na Zona Norte. Na viatura da BM, dois policiais militares do 19º BPM faziam a escolta de dois presos por tráfico de drogas.
06 de novembro
Presos que estavam sendo mantidos na carceragem DPPA de Canoas atearam fogo na cela. Uma policial passou mal ao inalar fumaça no combate ao incêndio e teve de ser socorrida no hospital. Presos batiam nas grades das celas e ameaçavam matar outros detidos.
07 de novembro
No dia seguinte, o secretário da Segurança Pública, Cezar Schirmer, admitiu que estava em estudo, e com boa possibilidade de ser adotado, o uso de contêineres para abrigar detentos recém-ingressos no sistema prisional.
09 de novembro
Dois presos foram algemados a lixeira em frente ao Palácio da Polícia, em Porto Alegre, onde passaram parte da madrugada. Tratavam-se de foragidos que foram detidos durante abordagem policial.
10 de novembro
Por medida de segurança e para não expor os presos, o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Alfeu Freitas Moreira, orientou o policiamento para que mantenha as viaturas com os presos em ruas menos movimentadas de Porto Alegre.
16 de novembro
Depois da superlotação de celas nas DPPAs, do uso de viaturas da Brigada Militar para manter presos sob custódia e até do extremo de um preso algemado a uma lixeira em frente ao Palácio da Polícia, uma nova forma de custódia de preso foi vista diante da 2ª DPPA, no Palácio da Polícia. Desta vez, um preso foi mantido dentro do micro-ônibus do 21º BPM.
19 de novembro
Para evitar exposição e constrangimento, um micro-ônibus da BM que abrigava presos à espera de vagas em cadeias ficou estacionado no pátio do Palácio da Polícia. No entanto, insatisfeitos, os seis detidos quebraram janelas e estragaram bancos do micro-ônibus, que ficou completamente depredado em seu interior. Os presos pediam transferência, pois haviam passado a noite no veículo. Mesmo após a revolta, eles seguiram algemados dentro do micro-ônibus por algumas horas e foram autuados por depredação. Dentro da carceragem, outros detidos atearam fogo a roupas e protestaram contra as condições do local.
22 de novembro
Cezar Schirmer confirmou a utilização de um ônibus desativado como alternativa à detenção de presos que aguardam vagas no sistema prisional. O Trovão Azul, como é conhecido, tem capacidade para abrigar até 30 detentos e era utilizado pela Susepe para transportá-los. Diferente do micro-ônibus da Brigada Militar, depredado no Palácio da Polícia por seis detentos, possui grades no seu interior.

24 de novembro
Neste dia, a Brigada Militar bloqueou parcial uma das principais vias de Porto Alegre em horário de pico: a Avenida Ipiranga. Em frente ao Palácio da Polícia, no sentido bairro, oito presos sob custódia da Brigada Militar em sete viaturas paradas sobre a faixa de rolamento e a calçada da Ipiranga inviabilizavam o serviço de patrulha de 15 policiais às 16h. A ocupação da via pelos veículos da polícia gerou lentidão e curiosidade de quem trafegava pela área. Em razão do calor, alguns policiais optaram por abrir as portas onde estavam os detentos para ventilar as celas. Conforme um policial, que preferiu não se identificar, dois presos estavam no local há três dias esperando transferência para o sistema prisional. Era consenso a insatisfação dos PMs.
30 de novembro
Ônibus-cela da Susepe começa a receber presos. Com capacidade para até 30 detentos, está estacionado em um pavilhão em frente à Academia da Polícia Civil, na Rua Comendador Tavares, no bairro Navegantes, zona norte da Capital, para ser utilizado enquanto são executados os trabalhos para a instalação do Centro de Triagem de presos provisórios no Presídio Central de Porto Alegre. Esta é a primeira das cinco estruturas previstas pelo governo estadual para solucionar a questão da superlotação das carceragens das delegacias de Polícia.