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O Porto do Sol Hostel, no bairro Rio Branco, foi o quinto avaliado por Zero Hora na série de reportagens sobre os hostels de Porto Alegre. Veja o resultado:
Dia 5 - Porto do Sol Hostel
Check in - 18h
Check out - 12h
Não me lembrava de ter encontrado com australianos em Porto Alegre até aquela segunda-feira. Ou seja, foi um pouco estranho deparar com vários de uma só vez quando cheguei ao Porto do Sol, na Rua Mariante. De cara, eram sete.
Surfe no Guaíba? Não, Copa do Mundo mesmo. Garotos australianos gostam de futebol, mas gostam mais de viajar. Sabem que não vão ganhar o Mundial. No entanto, resolveram acompanhar sua seleção por toda a parte.
Eu falaria com muitos deles durante minha estadia no simpático hostel, que começava a ambientar os turistas já no check in, oferecendo um "brigadeiro" - usavam o termo não gauchês. Todos me contariam que estiveram em Cuiabá - Cuiába, diziam - para a estreia da Copa. Depois de Porto Alegre, onde a Austrália enfrentaria a Holanda, seguiriam o time por Curitiba e onde mais tivesse jogos.
Garotos australianos usam havaianas no frio. Quer dizer, um grupo deles insistiu nos chinelos naquela noite úmida, com temperatura em torno dos 15ºC. Como todos pareciam muito, muito entretidos em seus smartphones, preferi não questioná-los sobre o assunto.
Eles também gostam de gatos. Se bem que até quem não gosta se renderia ao charme de Godofreda, mascote do Porto do Sol. A rechonchuda felina de pelagem tricolor passa o dia revezando sonecas entre o sofá da recepção e um pufe ao lado dele, coberto com uma manta. É tanto cafuné que ela se confunde: começa lambendo a mão afagadora, e depois intercala com mordidas. Ninguém se incomoda.
Dia 1 - Eco Hostel: viajantes deixam sua marca rabiscada nas portas e janelas
Dia 2 - Porto Tchê: bairrismo acolhedor envolve turistas na cultura gaúcha
Dia 3 - Casa Azul: bom para se divertir, difícil de dormir
Dia 4 - Bom Fim: culturas ricas e café modesto
Dia 6 - Hostel Boutique: só faltou o banho quente Garotos australianos não são fãs da gastronomia de seu país, e parecem gostar de comida pré-pronta. Enquanto os três de havaianas aguardavam por sua pizza de caixinha, aquecida no forno do hostel, outro preparava uma miojo no copo.
Michael Schalk pediu-me ajuda para ler as instruções na embalagem de sua lasanha de vegetais, prestes a ir para o micro-ondas. 1. Levantar a ponta do plástico. 2. Levar ao micro. Seis minutos. Durante seu breve jantar, contou-me viver em Perth, no oeste australiano, e trabalhar com a venda de um minério produzido em seu país para a China.
Garotos australianos usam famosos como referência para explicar seus nomes - porque às vezes seu sotaque dificulta a compreensão. Junto com Michael, como o Jackson, estavam Dylan, como o Bob, e Harry, que seria como o Potter, até revelar que, embora se considerasse australiano, era nascido na Inglaterra. Logo, passou a ser Harry, como o príncipe. O trio visitava Porto Alegre pela primeira vez.
Graças a eles - não aos três amigos, mas a todos os seus conterrâneos hospedados no hostel, uns 15, 20 ou 30 -, eu teria uma noite de hotel no Porto do Sol. Apesar da reserva para um dormitório compartilhado, fui instalada em um quarto privativo, com cama, espelho, mesa e cadeira, além de toalha e sabonete. Concluí que fosse por falta de lugar, já que a atendente colombiana não soube me explicar o motivo. Apenas sorriu. Aceitei.
O Porto do Sol tem um ambiente aconchegante, o que inclui uma sala de convivência com televisão e mesa de sinuca. Mas aussies não jogam sinuca. Naquele dia, assistiam ao futebol de EUA x Gana e torciam pelos americanos.
Garotos australianos bebem cerveja ou cider (um fermentado de maçã, como a sidra). Os que conheci não gostaram de caipirinha e surpreenderam-se com a quantidade de tipos de cervejas que alguns bares de Porto Alegre oferecem.
Eles acham que temos moradores de rua demais. E que nossos taxistas são muitos apressados. Também não entendem por que os brasileiros insistem em tentar ajudá-los, mesmo quando não falam seu idioma.
Supus que estivessem à vontade diante do improvável quê praiano dos fundos da casa, onde alguns deles dominavam um quarto. Além de churrasqueira, uma rede e bancos forrados com almofadas floridas de xita - o tecido, não a macaca - compunham o cenário.
Alguns banheiros ficavam na rua. Dois vasos sanitários e dois chuveiros, uma cabine para cada, uma ao lado da outra. Fora da casa. Era tarde demais quando descobri que tinha uma espécie de vestiário, mais hermético, logo ao lado.
Na fria manhã de terça-feira, pendurei minha toalha e roupas em um pequeno gancho dentro da cabine de banho. Elas ficaram bem úmidas, mas era o único jeito de não ter de desfilar sem roupa pela área.
Usufruí de um terapêutico banho no chuveiro mais deliciosamente quente e estável que experimentei nessa jornada até alguém puxar a descarga. A água ficou escassa e esquentou demais por alguns segundos, que foram logo superados.
Consegui vestir toda a roupa, menos a meia-calça, dentro da cabine. Um alívio. Já os garotos australianos não se importavam com o frio. Deixavam o banho quente só de toalha enrolada na cintura e seguiam a vida sem maiores problemas.
Rumei para um café da manhã honesto antes de partir: pão, frios, bolo e frutas. Tomei café com leite. Novos australianos surgiam e parecia impossível frear sua multiplicação. Eram publicitários ou eletricistas, chefs de cozinha ou professores do jardim de infância. Todos gostaram do brigadeiro.
Deixei o hostel sabendo um pouco mais sobre alguns exemplares dessa espécie mais loira que morena, que adora tatuagens e não se cansa de fazer piadas com o próprio idioma. E que, de forma inusitada, pareceu maioria na capital gaúcha naquele dia.
Já as garotas australianas não gostam de futebol. Ou não gostam de viagens. Ou não gostam de hostels, não sei bem. Segui sem ter encontrado nenhuma delas em Porto Alegre.
Em vídeo, veja o que os estrangeiros acharam da mais tradicional bebida gaúcha:
Sobre a série:
Para avaliar o serviço de hospedagem que, aos poucos, deixa de ser novidade na Capital, ZH virou mochileira por duas semanas. Ao longo deste período, a reportagem se hospedou nos seis hostels indicados pela Secretaria Municipal de Turismo a quem vem a Porto Alegre.
Sem aviso prévio, Porto Alegre Eco Hostel, Hostel Porto Tchê, Casa Azul Hostel, Bom Fim Hostel, Hostel Porto do Sol e Porto Alegre Hostel Boutique abrigaram uma jornalista por uma noite, às vésperas da Copa ou durante o Mundial.