A família de Cadu é valente na rinha da vida. A mãe, Carla Simone, bateu-se durante quatro anos para curar o filho, por vezes sem dinheiro para a passagem de ônibus entre Livramento e Porto Alegre. Ainda sustenta mais três filhos, dois deles com deficiência (um de locomoção, o outro mental), mas não esmorece. Rafael Magal, cinco anos, o caçula, é o serelepe da casa.
Os parentes de Carla Simone eram operários de mão calejada, hoje vítimas do desemprego. A bisavó de Cadu, Palmira Trindade da Rosa, 75 anos, trabalhou por duas décadas no portentoso frigorífico Swift Armour, que movimentava a economia com exportações de toneladas de carne. Ela era do setor de descarnar a cabeça das reses abatidas. Circulava entre uma multidão de funcionários (no auge seriam quase 4 mil), satisfeita com o salário mensal.
- Quando o Armour fechou, o pessoal se desesperou. Ele sustentava a cidade -
recorda Palmira.
Centenas de pessoas foram obrigadas a abandonar Livramento à procura de novo
emprego, na década de 1970, como as irmãs e os sobrinhos de dona Palmira, que migraram para Caxias do Sul e Dois Irmãos. Famílias se fracionaram.
Quem ficou na fronteira sem indústrias, pois lanifícios também faliram, tratou de se arranjar. Cadu inspira-se no avô, Luiz Carlos dos Santos Pacheco, 57 anos, sargento da Brigada Militar e um dos esteios da casa. Indeciso como é próprio dos adolescentes, cogita seguir a carreira militar, pelo respeito que impõe, mas se resolverá mais tarde.
Já Carla Simone era frentista num posto de gasolina, mas se demitiu para cuidar dos filhos, especialmente dos três com deficiência. Numa prova de que as adversidades são covardes, arremetendo em grupo quando o alvo está debilitado, acabou se separando do marido, mas ele auxilia como pode no tratamento de Cadu.
- Os meus filhos estão em primeiro lugar - diz Carla Simone, que não se queixa dos infortúnios do passado.
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