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A presença de toxinas produzidas por fungos é mais comum e perigosa do que se pensa, e representa uma ameaça ao consumo de produtos como feijão, arroz, milho, cereais, leite, frutas e sucos.
Essas substâncias, capazes de provocar doenças graves, começaram a ser testadas há apenas cinco anos no Estado, e sua presença já foi confirmada em pelo menos uma amostra de milho na safra 2012/2013. Elas representam um risco ainda maior no Rio Grande do Sul do que em outras regiões do país porque o clima úmido favorece a proliferação de fungos.
Talvez você nunca tenha ouvido falar no termo "micotoxinas", mas é possível que já tenha ingerido uma porção delas. Essas substâncias nocivas, produzidas por fungos, estão presentes em vegetais, sobretudo grãos. Também podem intoxicar animais por meio da ração e chegar ao homem em produtos alimentícios. Alguns tipos são capazes de provocar complicações graves de saúde, como câncer, mediante o consumo em longo prazo. Mesmo assim, ainda recebem pouca atenção dos consumidores e dos órgãos de fiscalização no Brasil em comparação a países europeus, por exemplo.
Por isso, o perigo representado por esse tipo de toxina é fonte de crescente preocupação entre especialistas no Rio Grande do Sul, onde o clima úmido é um fator agravante por favorecer a proliferação de fungos em locais de armazenagem e também no campo.
- Esse é um assunto muito sério, ao qual não está sendo dada a importância que merece - avisa o chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal da Superintendência do Ministério da Agricultura (Mapa) no Rio Grande do Sul, José Fernando Werlang.
Essa falta de atenção se reflete em uma fiscalização ainda distante do ideal, já que os testes de laboratório para detectar essas toxinas são eventuais e pouco sensíveis. Geralmente, envolvem o mercado de cereais, embora o contaminante possa estar presente em uma gama muito mais ampla de produtos. Isso significa que não há certeza sobre quais alimentos estão sendo consumidos com essas toxinas e em qual quantidade.
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Apesar disso, já houve confirmação da presença de micotoxinas em alimentos no Estado. No ano passado, um exame realizado por amostragem encontrou esse tipo de contaminante em um lote de milho para pipoca - o que levou ao recolhimento do produto.
- Talvez o programa de fiscalização ainda não tenha a dimensão necessária. Este ano, o ministério repassou recursos para expandir a fiscalização da Secretaria Estadual da Saúde também - admite Werlang.
Outro complicador, segundo o fiscal Leandro Kroth, é que a distribuição da micotoxina na produção não é homogênea. O fungo pode atingir apenas uma parte do lote armazenado em local úmido, por exemplo, enquanto a análise de laboratória é feita com base em uma amostra de outra parte da carga.
Uma portaria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabelece limites máximos de tolerância para as micotoxinas para diferentes tipos de alimentos, com metas mais rigorosas previstas que deveriam ser implantadas progressivamente até 2016. Recentemente, porém, o prazo foi estendido para 2017. Mas, segundo o professor de microbiologia clínica da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alexandre Fuentefria, esse é outro problema. A tolerância deveria ser ainda menor.
- Há casos em que os limites de tolerância no Brasil são até 10 vezes maiores do que nos países da União Europeia - argumenta Fuentefria.