
Abraham Palatnik colocou a arte na tomada e apertou o botão. E, com luzes e movimento, fez obras mundialmente pioneiras no uso de tecnologia.
Quando levou um de seus "Aparelhos Cinecromáticos" à 1ª Bienal de São Paulo, em 1951, o júri não sabia como classificar. Não era pintura, desenho, gravura ou escultura, apenas uma grande caixa com uma transparência. Mas, quando ligada na luz, mostrava formas coloridas se mexendo, como uma pintura abstrata que acabava de ganhar vida.
O efeito ótico era gerado dentro dela, por um mecanismo de motores, engrenagens e lâmpadas. Com a invenção de suas "máquinas de pintar" e os trabalhos que faria nos anos seguinte seguindo os mesmos princípios marcados pela artesania, Palatnik se tornou o mestre da arte cinética no Brasil.
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Aos 87 anos, o artista relembra:
- Em fins da década de 1940 e começo de 50, podíamos falar em tecnologia na arte. E talvez (seus trabalhos artísticos) pudessem ser de fato considerados inovações pioneiras na arte cinética.
Mas logo faz um reparo:
- Só que tenho que dizer que às vezes me sinto um pouco desconfortável com essa noção de que eu usava "tecnologia" em arte. Os mecanismos eram mecânicos e elétricos, e não tinham maiores sofisticações, especialmente se pensarmos na alta tecnologia atualmente empregada em todas as coisas de nossa vida e também, claro, na arte contemporânea.
Esse Palatnik ciente de seu tempo e humilde com seu legado chega com uma grande retrospectiva a Porto Alegre - onde participou da 1ª Bienal do Mercosul, em 1997. "A Reinvenção da Pintura" estreou em 2013 no CCBB-Brasília e passou pelo Museu Oscar Niemeyer em Curitiba e pelo Museu de Arte Moderna de SP.
Agora, ganha dois andares da Fundação Iberê Camargo (FIC). Com inauguração nesta quinta-feira, às 19h, e abertura para visitação a partir de sexta-feira, é uma das principais exposições do ano na instituição, ao lado da mostra do italiano Marino Marini no primeiro semestre, no momento em que também enfrenta os efeitos da crise econômica.
"A Reinvenção da Pintura" reúne cerca de 80 obras, mostrando como o artista desenvolveu sua trajetória, desde os primeiros trabalhos em desenho e pintura até a virada radical com as obras cinéticas. Há também objetos, estudos e móveis.
O destaque são os históricos "Aparelhos Cinecromáticos" e "Objetos Cinéticos", obras com as quais, ao usar luzes e movimento, Palatnik trilhou um caminho único na arte brasileira e se tornou referência internacional na arte cinética da América do Sul, ao lado de nomes como o argentino Julio Le Parc e os venezuelanos Carlos Cruz-Diez e Jesús Rafael Soto (1923 - 2005).
Nascido em Natal (RN), filho de judeus russos, Palatnik migrou com a família para Tel Aviv. De volta ao Brasil na década de 1940, aos 19 anos passou a acompanhar o artista Almir Mavignier nas aulas de pintura que ministrava no Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro, ou Hospício Pedro II, no Rio. Nesse convívio artístico e humano, veio ruptura que marcaria a carreira de Palatnik:
- Fiquei chocado com as imagens impressionantes produzidas pelos pacientes. Meu entendimento sobre a arte desabou e me senti incompetente face às maravilhosas obras daqueles internos. Quase desisti de ser artista - relembra Palatnik, comentando sua reação: - A inquietude que senti por causa dessa experiência traumática acabou provocando minha vontade de usar a capacidade inventiva, e a pesquisar o movimento e a luz, aplicando os resultados nos "Cinecromáticos".
O curador Pieter Tjabbes, que assina a curadoria da exposição ao lado de Felipe Scovino, comenta o pioneirismo da produção do artista e o pensamento de pintura que levou para suas obras cinéticas que ganham o espaço.
- Palatnik antecipa o que será discutido, por exemplo, por Ferreira Gullar no início dos anos 1960 a respeito das obras de Hélio Oiticica e Lygia Clark quando as denomina "não-objetos". E apesar de possuir um trabalho tridimensional, envolvido com o meio da escultura, sua obra lida diretamente com o meio pictórico.
Para Palatnik, a intenção foi sempre a mesma:
- Fui desenvolvendo e produzindo obras para unir estímulos estéticos que tocassem e instigassem a percepção das pessoas de variadas formas. Essa essência permaneceu.
Abraham Palatnik - A Reinvenção da Pintura
- Abertura nesta quinta-feira (2/7), às 19h, para convidados. Visitação de terça a domingo (inclusive feriados), das 12h às 19h (último acesso às 18h30min). Até 4 de outubro.
- Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2.000), em Porto Alegre, fone (51) 3247-8000. Gratuito.
- Estacionamento: no subsolo da Fundação, com entrada pela Av. Padre Cacique, no sentido Zona Sul.
- A exposição: retrospectiva do mestre da arte cinética no Brasil, com obras que usam luzes, movimento e energia elétrica.
"Aparelho Cinecromático", de Abraham Palatnik. Foto Edouard Fraipont (Divulgação)

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