Copa 2014

Longe do Itaquerão

Amarelo, azul e vermelho: a festa nos bares de Porto Alegre

Na Cidade Baixa, mais famoso bairro boêmio da capital gaúcha, os torcedores lotaram os bares e vibraram com a vitória da Seleção

Mauro Vieira / Agencia RBS
Teve até vuvuzela na festa dos torcedores em Porto Alegre.

Desde as primeiras horas da tarde, torcedores vestindo o amarelo do Brasil e o vermelho e azul da dupla Gre-Nal tomaram conta da Cidade Baixa, famoso bairro boêmio da cidade.

Leia todas as notícias sobre a Copa 2014

Entre vendedores, buzinas, bandeiras brasileiras e os aperitivos e bebidas que se espalhavam pelas mesas dos estabelecimentos, todas as atenções estavam voltadas para a Seleção e a sua partida de estreia, diante da Croácia.

Pré-jogo

Às 16h30min só restavam nas ruas da Cidade Baixa aqueles que não acharam mesas disponíveis nos bares. A maioria dos estabelecimentos estava lotado. Em frente aos telões, não tinham vagas desde as 15h. Mas havia aqueles que procuravam outro tipo de atração nos bares da cidade:

- Tu sabes onde é o bar que tem mais estrangeiras? E as holandesas? - perguntava alto pela Lima e Silva um grupo de quatro torcedores brasileiros que vagava de bar em bar.

Alto também tocava a corneta de Itamar dos Santos. O vendedor, vestido de verde e amarelo da cabeça aos pés, enrolado em uma bandeira do Brasil e trajando a amarelinha número 9 com o nome de Ronaldo (confira na galeria abaixo), anunciava seus produtos soprando o instrumento.

- Faz mais de 15 anos que eu faço isso (ser vendedor ambulante pelas ruas de Porto Alegre). Está vendendo muito nesta Copa!

Sobre as chances da Seleção no Mundial, Santos é direto:

- Chance? O Brasil não vai ter chance. O Brasil vai é ser campeão!

As 17 h iam chegando e as ruas se esvaziaram rapidamente. Quem não havia conseguido lugar próximo aos telões, se contentou com as TVs no interior dos bares. Os raros carros que transitavam pela Lima e Silva e pela Rua da República o faziam buzinando. Um guitarrista anônimo colocou um amplificador na sacada e tocou o Hino Nacional para a rua vazia. Na Arena Corinthians, o time treinado por Felipão entrava em campo.


Bandeirinhas do Brasil decoram praticamente todos os estabelecimentos do bairro. (Foto: Mauro Vieira/Agência RBS)

O jogo

Em algum lugar entre o "Ouviram do Ipiranga" e o "pátria amada, Brasil!", as arquibancadas do Itaquerão, os bares de Porto Alegre e todos os brasileiros que assistiam ao seu hino sendo tocado na TV se conectaram. Na Cidade Baixa, o vozerio tradicional dos bares foi substituído pelo canto em uníssono.

Quando o jogo começou, o silêncio persistia e só era quebrado por quem pedia uma nova porção de batatas fritas ou chope. Saiu o gol da Croácia -  contra do lateral Marcelo - e a reação não foi de tristeza. Em diversas mesas houve quem desse risada. O gremista sentado na janela ironizou alto:

- Mas começamos bem, hein tchê?

Logo veio o empate, e a vibração ecoou pelo bar lotado. "Tocou Neymar, é gol!", alguns cantaram, lembrando MC Guimê. A confiança de uma vitória na estreia, que nunca parecia ter sido abalada, crescia a cada novo ataque brasileiro.

O invervalo veio acompanhado das filas no banheiro. E elas, por sua vez, trouxeram comentários sobre o tento do Brasil. "Jogadaça do Oscar", "Quase que o goleiro busca!", "Foi um chutaço, ele não tinha chance". As conversas nas mesas voltaram a encher o local.

Quem estava sentado demorou para entender que o segundo tempo estava começando. O bate-papo seguia solto. Os garçons corriam para atender aos pedidos. As bandejas levavam aperitivos para um lado e cerveja para o outro, em um vai e vem frenético. Até que uma vibração que parecia de gol tomou conta do bar.

- Pênalti! O japonês marcou pênalti! - vibrou uma torcedora fardada com a camisa da Seleção Brasileira. Em São Paulo, Yushi Nishimura apontava a cal e depois mostrava o cartão amarelo a Lovren.

Quando os replays vieram, a vibração pela penalidade máxima deu lugar a risadas. Ninguém no bar acreditou na simulação de Fred, que se lançou ao gramado após um toque do defensor croata. Neymar cobrou e garantiu a virada no placar, para o delírio dos torcedores.

Após a comemoração, os bate-papos voltaram a parecer mais interessantes do que o jogo que passava nas TVs instaladas no bar. Os protestos do início da tarde, o contato com os estrangeiros na cidade e a performance de Claudia Leitte no show de abertura do Mundial eram os principais temas pelas mesas.

Oscar, de bico, anotou o terceiro gol brasileiro e fez a alegria de quem já parecia ter esquecido do jogo. A vibração com o gol do camisa 11 foi maior do que com os gols anteriores. Logo a explicação apareceu, no grito de um torcedor vestido de vermelho:

- Dale Oscar! Dale Inter! - vibrava.

Fim de jogo, mas não da festa. Os bares seguiram lotados após a boa vitória brasileira na estreia. Terça-feira tem mais. O Brasil enfrentará o México no Estádio Castelão, em Fortaleza. Em Porto Alegre, os torcedores fardados de amarelo, azul e vermelho querem vibrar em conjunto novamente.

Em imagens, confira a festa da torcida em Porto Alegre:


Argentinos atrasados
O relógio indicava que ainda havia uma hora até o apito inicial da Copa do Mundo de 2014. No Casa Azul Hostel, a correria dos garçons era imensa.

- Claro que agora tem mais movimento, mas a gente está acostumado. O trabalho é o mesmo, só apertamos no fastforward - resume, gritando, Lucas Mello, gerente do hostel.

Não havia nenhuma mesa livre no local, e o borburinho dos torcedores ansiosos tornava impossível qualquer outro tipo de conversação que não fosse o grito. O amarelo do Brasil e o vermelho e azul da dupla Gre-Nal se misturavam nos corredores abarrotados do hostel que hospeda nesse momento húngaros, franceses, ingleses e muitos - muitos! - argentinos.

A maioria dos estrangeiros havia partido para a fan fest que rolava a poucos quilômetros dali. 

- Estamos entre uns 5 ou 10. Vamos todos para o Pôr do Sol (o Anfiteatro, local da fan fest) e hoje mesmo vamos seguir viagem para o Rio - vibrava Luga da Silveira, gaúcho de uruguaiana que foi para a argentina ainda adolescente e não voltou mais. Agora, aos 23, reuniu sua turma e veio viajar pelo Brasil para curtir o clima da Copa (confira na galeria acima).

Colombianos esperançosos
Paola Restrepo já mora em Porto Alegre há um ano. Nada que tenha diminuído o sotaque carregado da comerciante colombiana. Em uma mesa do Boteco Pedrini, contava os minutos para a abertura da Copa ao lado de quatro amigos, todos vindos da terra de Falcao García (craque do time, fora do Mundial por lesão). Mas a lesão do mais famoso jogador da equipe assusta os colombianos?

- Não assusta nada! Em campo, um time não é um, são 11! E temos o Quintero (Juan, jogador do Porto de Portugal) que é um grande jogador. Não vamos sentir tanta falta do Falcao - analisa Daniel Valencia, 20 anos de idade e um dia em Porto Alegre.

GZH faz parte do The Trust Project
Saiba Mais
RBS BRAND STUDIO

Central do Torcedor

15:00 - 17:00