
Em quase cinco horas de depoimento no Foro de Três Passos, a delegada Caroline Bamberg, que conduziu o inquérito da morte de Bernardo Uglione Boldrini, revelou que o menino era dopado pelo pai, o médico Leandro Boldrini. Segundo a delegada, no mesmo vídeo em que é visto sendo ameaçado de morte pela madrasta, Graciele Ugulini, Bernardo aparece "grogue", sob o efeito de medicamentos. A exibição das imagens, na sala de audiência, foi "impactante", de acordo com Caroline:
- Ali aparece o menino grogue por causa dos medicamentos e é dito por ele (pai) "você tem que tomar esse remedinho aqui".
Em outro momento do mesmo vídeo, de acordo com informações obtidas por Zero Hora com a Polícia Civil de Três Passos, o garoto ouviu da madrasta, durante uma briga, a seguinte frase: "Vamos ver quem vai para baixo da terra primeiro". Uma policial, responsável por fazer a transcrição do áudio e entregar o documento oficial junto às imagens à Justiça, afirmou que a intenção de Graciele era registrar a agressividade do garoto contra ela e o pai.
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Porém, a briga saiu do controle e Bernardo foi ameaçado de morte. No vídeo, Boldrini, além de não fazer nada para acabar com a discussão, ainda mandou o menino "calar a boca". Bernardo berrou por socorro diversas vezes, até que a Brigada Militar foi chamada à residência para verificar o que estava ocorrendo.
- Vai lá agora, seu cagão, cagão - ironizou Graciele na chegada dos policiais.
Boldrini permanecia imóvel. O médico apagou o vídeo do celular depois que o menino foi assassinado, mas técnicos do Instituto-Geral de Perícias (IGP) conseguiram recuperar as imagens. Há mais um vídeo, ainda não divulgado, que demonstra, segundo Caroline Bamberg, o comportamento omisso do pai em relação aos cuidados com Bernardo e o clima de guerra dentro da casa.
- Há várias provas que levam a uma causa. É muito difícil chegar ao mentor dos fatos, e nós conseguimos. Isso (os vídeos) só vem corroborar o que todas as testemunhas disseram sobre o comportamento dele (Leandro Boldrini).
Além da delegada Caroline Bamberg, outras 32 testemunhas - 10 de acusação e 22 de defesa - foram arroladas para prestar depoimento nesta terça-feira. Não há previsão se todas conseguirão ser escutadas ainda hoje, e se será necessária uma nova audiência ou a dispensa de testemunhas. Caroline é considerada a principal testemunha da primeira audiência do Caso Bernardo.
Os irmãos Evandro e Edelvânia Wirganovicz, presos por envolvimento no assassinato, estão presentes na sala de audiência e ficaram, durante o depoimento da delegada, com a cabeça baixa. As novas provas periciais em vídeo reforçam a tese da acusação de que Leandro Boldrini participou ativamente na premeditação do homicídio. O advogado dele, Jader Marques, disse que só vai se manifestar após a audiência.
Ao todo, 77 pessoas falarão antes do julgamento, em Júri Popular ou não, ainda sem data prevista. Conforme a Justiça, a data do julgamento de Edelvânia e Evandro Wirganovicz, Leandro Boldrini e Graciele Ugulini ainda não está definida. O Ministério Público arrolou 25 testemunhas, e as defesas, 52.
Veja como teria ocorrido o crime: