
O aumento da criminalidade no Rio Grande do Sul motiva, desde o final do ano passado, o clamor de prefeitos e de moradores para que o governo acionasse a Força Nacional de Segurança ou o Exército. Sempre com a discordância do Piratini. Em entrevista à Rádio Gaúcha na manhã desta sexta-feira, no entanto, o governador José Ivo Sartori afirmou nunca ter dito que não havia necessidade em acionar a Força Nacional.
– Eu nunca disse que nada sobre isso, nós vínhamos conversando – resumiu Sartori.
Mas, desde o início do ano passado, o assunto foi discutido em pelo menos sete momentos. Em todos eles, o governo estadual se posicionou contra a medida:
– Temos uma Brigada Militar que tem 177 anos. Até o momento em que ela tiver condições de dar conta do recado e fazer o trabalho que vem fazendo, apesar de todas as dificuldades, está cuidando da sociedade – afirmou Sartori em setembro de 2015.
O Piratini só resolveu mudar o rumo de suas ações um ano depois, com o assassinato da vendedora Cristine Fonseca Fagundes, de 44 anos, em frente ao Colégio Dom Bosco, onde iria buscar o filho de 13 anos.
O caso causou comoção popular, motivou um protesto em frente à casa do governador e o pedido de exoneração do secretário de Segurança, Wantuir Jacini. Até então, o Piratini sempre repetiu que a Força Nacional só iria atuar em "casos pontuais", como ocorreu durante os protestos dos caminhoneiros no início deste ano.
Confira abaixo os casos que motivaram a discussão
Setembro de 2015
O aumento de 100% nos homicídios em Porto Alegre entre a última semana de agosto e a primeira de setembro motivou a discussão sobre uma possível atuação da Força Nacional de Segurança no Estado. Um dos casos mais emblemáticos foi de Ronaldo de Lima, 18 anos, morto com um tiro nas costas pela polícia durante uma abordagem no Morro Santa Teresa. O homicídio revoltou a comunidade, e dois ônibus e um lotação foram incendiados. No mesmo mês, o comerciante Elvino Nunes Adamczuk, 49 anos, foi morto enquanto passeava com os cachorros por causa de um tiroteio entre a BM e assaltantes. Em dezembro, a perícia conclui que a bala que o matou era da polícia.
Depois dos casos, o eventual apoio da Força Nacional no Rio Grande do Sul chegou a ser mencionado em uma reunião em Brasília, no Ministério da Justiça, com a participação do governador José Ivo Sartori. O governador descartou ajuda da Força Nacional, afirmando que confiava na polícia gaúcha.
Setembro de 2015
Ainda em setembro, após um tiroteio no bairro Santa Tereza deixar um morto e sete feridos, o prefeito José Fortunati usou o Twitter para defender a Força Nacional no Estado. "A cidade precisa de um choque de segurança com a Força Nacional apoiando a Brigada Militar", escreveu o prefeito.
O reforço federal voltou a ser descartado pelo governo. Wantuir Jacini afirmou à época que a Força Nacional só seria chamada em situações pontuais:
– A Brigada Militar, com todo seu efetivo, é suficiente para resolver essas questões. A Força Nacional é para intervenções específicas, que podem ser, por exemplo, em presídios ou rodovias federais.
Outubro de 2015
Pelo menos 11 pessoas foram mortas em um período de oito dias em Novo Hamburgo, o que motivou o prefeito a pedir que o Estado acionasse a Força Nacional para atuar na cidade. A justificativa era de que o efetivo da BM no município teria sido reduzido.
– Por que não utilizar a Força Nacional? Porque desconhece o terreno, a cidade e a criminalidade. Por isso, não pode ser utilizada rotineiramente, tem de ser utilizada episodicamente por tempos curtos – disse Jacini à época, que optou por enviar policiais de outras cidades para Novo Hamburgo.
Dezembro de 2015
Após o incêndio a seis coletivos em Porto Alegre, a segurança pública do Rio Grande do Sul descartou acionar reforço da Força Nacional de Segurança ou de policiais que atuam no Interior. O secretário da Segurança à época, Wantuir Jacini, avaliou que os profissionais da Capital estavam "dando conta do recado" e "mais atrapalharia" do que ajudaria. O plano do governo estadual se baseava em apostar na investigação da Polícia Civil para esclarecer a autoria dos delitos e nas patrulhas que o Batalhão de Operações Especiais (BOE) faria na Zona Sul, com policiamento ostensivo nas garagens de ônibus e itinerários de risco, avenidas principais e áreas de conflito.
A primeira suspeita era de que os atentados teriam sido encomendados por presos da Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), em Charqueadas, onde houve uma rebelião. Jacini chegou a cogitar pela primeira vez a possibilidade de acionar a Força Nacional para atuar no estabelecimento prisional, mas descartou a hipótese.
– Esse tipo de interno não tem ligação com facções do tráfico. Agora, tenho as informações completas e posso dizer que não há necessidade de trazer a Força Nacional para a PEJ – disse Jacini à época, explicando que a motivação para os incêndios teria sido uma ação policial no bairro Cascata, que terminou com a morte de um homem.
Fevereiro de 2016
A morte de uma mulher perto da rodoviária de Porto Alegre retomou a questão da Força Nacional de Segurança. Um grupo de mães chegou a realizar um protesto por mais segurança depois do caso e fazer um abaixo-assinado virtual pedindo reforço da Força Nacional.
Março de 2016
O uso da Força Nacional voltou à pauta após um tiroteio na Vila Cruzeiro, que causou a morte de um homem. O caso ganhou repercussão porque o homem foi executado enquanto o vice-prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, participava de reunião do Conselho Distrital de Saúde no posto da Cruzeiro, próximo ao local do assassinato.
– O governador deveria criar uma sala de crise, chamar o governo federal, especialistas (em segurança), e pessoalmente comandar esse tema, e não afastando de pronto o uso do Exército, da Força Nacional e de todos os instrumentos disponíveis – sugeriu o vice-prefeito à época.
Agosto de 2016
Depois que facções rivais causaram oito mortes em um intervalo de 26 horas em Porto Alegre, o clamor da população para que a Força Nacional de Segurança fosse acionada aumentou. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado afirmou que os casos não eram considerados motivos para acionar reforço federal.
A discussão sobre a possibilidade de acionar o Exército também ganhou força no início de agosto, depois que o governo do Rio Grande do Norte acionou o órgão após uma série de incêndios a ônibus e depredações a prédios públicos. O Piratini contestou, também, a necessidade de utilização das Forças Armadas, afirmando que a situação não caracterizava "domínio total de território por facções criminosas" ou configurava "total inépcia das forças policiais".