No primeiro dia de funcionamento do mercado financeiro depois do fracasso do acordo de leniência da JBS, à meia-noite de sexta-feira, as ações da empresa despencaram 31,34% na bolsa de valores. A perda de quase um terço do valor de mercado de uma grande empresa, em um só dia, é extremamente rara. No passado recente, só ocorreu algo semelhante com a OGX, de Eike Batista.
Em 1º de julho de 2013, os papéis da empresa de óleo e gás tombaram 29,11%. Menos de um ano depois, a integrante do extinto Império X assinou sua recuperação judicial.
– É um movimento que a gente chama de "destruição de valor" – afirma Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, agência brasileira de classificação de risco.
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Esse movimento incomum acontece, descreve Agostini, quando os investidores não sabem onde vai parar a queda de uma cotação. Alguém se interessa por comprar a ação por R$ 10, por exemplo, outro manifesta interesse, mas aí o candidato a comprador só aceita pagar R$ 9, e assim sucessivamente. Foi o que se viu perto do fechamento desta segunda-feira. Na segunda metade da tarde, a queda se acentuou de cerca de 20% para mais de 30%.
– A ação vai derretendo, e às vezes ocorre o que chamamos de "caindo no vazio", que é o fato de continuar em declínio mesmo sem motivos aparentes – detalha o economista.

Agostini explica que a perda nos papéis não impacta a operação do dia a dia da empresa, porque não afeta o caixa. Mas caso continue, pode vir a atingir a gestão.
– Quando a situação chega a um determinado ponto, dificilmente o conselho de administração deixa de agir. Pode até pedir a saída dos controladores, no interesse dos demais acionistas – avisa o economista.
A situação se agrava porque, além do mergulho das ações, a empresa ainda está no alvo de investigações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por insider trading. Caso venha a ser responsabilizada pelo uso de informações privilegiadas para lucrar no mercado, a atual gestão ficará ainda mais ameaçada, detalha Agostini.
E para complicar mais uma situação já difícil, o não fechamento do acordo de leniência foi decisivo, não por deixar a empresa desprotegida, mas por ter de pagar uma conta provavelmente ainda mais pesada em um futuro próximo.