
Depois de um mês de investigações, o inquérito que apura quem foi o responsável pelo incêndio do CTG Sentinelas do Planalto, em Santana do Livramento, deverá ser entregue sem apontar culpados pelo crime. Em 13 de setembro, estava marcado para o CTG um casamento coletivo que incluía um casal gay.
Segundo a delegada responsável, Giovana Müller, é provável que o documento seja entregue à Justiça sem o indiciamento de ninguém, por conta da falta de testemunhas presenciais e da ausência de câmaras de segurança no local.
- Nós estamos terminando algumas diligências, duas oitivas de testemunhas e aguardando a remessa do laudo pericial para encaminhar o inquérito. Estamos esgotando todas as informações que vieram até a gente, fizemos tudo o que podíamos fazer - afirma a titular da 1ª Delegacia de Polícia de Santana do Livramento.
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Segundo Giovana, algumas testemunhas chegaram a apontar um suspeito, que foi identificado pela polícia.
- Conseguimos até a quebra do sigilo telefônico mas não havia nenhum elemento que pudesse vinculá-la ao fato - complementa a delegada.
Em conversa por telefone com Zero Hora na manhã desta terça-feira, Carine Labres, a juíza da cidade fronteiriça que realizou o casamento gay (então no fórum), informou que não estava sabendo da possibilidade de o inquérito ser finalizado sem apontar o autores do incêndio. E lamentou a notícia:
- É triste, porque a identificação dos responsáveis seria um primeiro passo, uma resposta ao alarde e o melindre provocados pelo preconceito, seria um fator positivo para que eventos como esse não voltem a se repetir.
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A magistrada conta que, passado um mês do episódio, o cotidiano em Santana do Livramento volta aos poucos à normalidade. Segundo ela, se as pessoas ainda comentam o ato contra o primeiro CTG que se disponibilizou como sede para um casamento homoafetivo, é porque o assunto ainda está na "reflexão" e na "consciência" da população.
- Apesar da reação, revelamos que a homofobia é um fato real. E que temos uma longa batalha pela frente. Todos os poderes instituídos devem se unir para equiparar os direitos dos homossexuais aos dos heterossexuais - conclui Carine.
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Casal de mulheres agora recebe cumprimentos na cidade
Sabriny Benites, que vestiu terno e gravata e levou a noiva Solange Rodrigues ao altar do fórum da cidade, afirma que não sofre preconceito nas ruas de Santana do Livramento. Os murmurinhos diminuíram e, agora, o casal só recebe "parabéns pela coragem" e felicitações.
- Está tudo calmo. Eu bem imaginava que seria assim mesmo, que o assunto se acalmaria logo - conta.
Segundo ela, o casamento de papel passado (o casal já "havia juntado as escovas") só melhorou a relação. E a união trouxe ainda mais seriedade para enfrentar novos desafios:
- A Solange tem um filho, de sete anos, que mora com a avó. A mãe de criação dela não deixa que ela veja o filho. Estamos na Justiça e queremos trazê-lo para a nossa casa. Esse é o nosso objetivo agora, queremos que ele venha morar com a gente.
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