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O ritmo crescimento do setor de segurança privada vai seguir acelerado nos próximos anos, projeta quem trabalha na área. A razão é a mesma que levou o segmento a multiplicar em mais de três vezes o faturamento em uma década, com crescimento médio superior a 12% ao ano: a falta de perspectiva de o pode público dar resposta adequada ao aumento da criminalidade.
Com a experiência de quem esteve à frente do aparato estatal de policiamento ostensivo, o consultor da empresa gaúcha de segurança privada Epavi, João Carlos Trindade, comandante-geral da Brigada Militar entre 2008 e 2010, é taxativo ao afirmar que, por enquanto, não há nenhum sinal de que o segmento pare de ganhar importância na tarefa que originalmente seria pública.
– Isso é diretamente proporcional ao aumento da criminalidade. E os Estados estão exauridos, com a capacidade de gastos com segurança no limite – opina Trindade.
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Para o assessor jurídico do Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado do Rio Grande do Sul (Sindesp-RS), Cesar Levorse, é possível comparar o quadro ao fenômeno que ocorreu com a saúde e a educação em décadas anteriores. Com a queda da qualidade do serviço público, a classe média recorreu aos planos de saúde e ao ensino privado.
– É mais recente, mas semelhante – atesta Levorse.
A avaliação sobre as perspectivas para o setor são semelhantes. Para o advogado, não há indícios de reversão no quadro que levou à falência do Estado na missão de garantir segurança. E se empresas e cidadãos não se sentem confortáveis com o que é oferecido pelas forças oficiais, isso gera lacuna que é preenchida pela iniciativa privada, diz Levorse.
– Não vemos um fim na insegurança. Isso gera demanda – resume o advogado.
A continuidade do problema aliado ao custo pode inclusive gerar alterações legais que tornem o serviço privado mais acessível para cidadãos e pequenos condomínios, entende Levorse. Além do avanço do monitoramento eletrônico, deve chegar o momento em que o poder público terá de regulamentar a função dos guardas de rua que costumam atender vizinhanças, criando a figura de autônomos no setor, prevê o advogado.
A segurança privada vai continuar a crescer, mas de forma diferente, entende Trindade, que não atribui o movimento ao encolhimento do poder público, mas a outras questões como legislação penal, fracasso na ressocialização de presos e desemprego. Em alguns casos, a presença física vai ser substituída pelo monitoramento eletrônico, com câmeras e sensores. Apenas a Epavi conta hoje com contingente de 7 mil funcionários e controla de forma remota três mil pontos no Estado. A despeito da crise na economia, Trindade arrisca que o faturamento do setor no país este ano cresce ao menos 10%.
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