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As perdas que a criminalidade geram ao país vão além dos custos cumulativos com segurança privada e seguros, espécie de bitributação imposta a empresas e à população, que já paga alta carga tributária e não tem retorno nos serviços públicos. O economista Daniel Cerqueira, conselheiro do Fórum Brasileiro da Segurança Pública (FBSP) e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que, como as principais vítimas das mortes violentas são os jovens, o problema tem sequelas de longo prazo.
Publicação elaborada pelo FBSP, baseada na edição do Anuário Brasileiro da Segurança Pública mostrou que, em 2013, o custo com segurança no Brasil chegou a R$ 285 bilhões, equivalente a R$ 5,4% do PIB. Foi calculado, à época, um desembolso com R$ 39 bilhões com a contratação de serviços de segurança privada, R$ 36 bilhões com seguro contra furtos e roubos e R$ 3 bilhões no sistema de saúde. Mas o impacto maior, R$ 114 bilhões, é na perda de capital humano. O quadro tem desdobramentos mais graves devido à transição demográfica vivida pelo Brasil, a caminho de ser país mais maduro. Em um momento que o país discute a reforma da Previdência, estes jovens que tiveram a vida ceifada pela violência – conforme o Mapa da Violência seriam mais de 20 mil assassinados – deveriam estar no mercado de trabalho nos próximos anos, ajudando a sustentar as aposentadorias, lembra Cerqueira.
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– Dizemos que os jovens são o futuro da nação, mas o que estamos fazendo com eles? Ou estão sendo mortos ou condenados à restrições materiais pela falta de educação de qualidade – diz o economista, lembrando que, com aprendizado deficiente, o país também não conseguirá avançar na produtividade da mão de obra, outro gargalo brasileiro.
Cerqueira avalia que a busca da classe média pela segurança sonegada pelo Estado acaba realimentando o quadro de fissura social.
– Quando as pessoas se protegem em seus carros blindados e se enclausuram em condomínios, há segregação da sociedade que termina jogando mais lenha na fogueira. O ideal seria que todos ocupassem espaços públicos. Segurança é um bem que tem de ser provido pelo Estado e com isso até os mais liberais concordam – diz o economista.
Graduação em segurança pública na PUC em 2017
Objeto de discussão nas universidades, o tema da segurança também começa a ganhar espaço como formação acadêmica na busca por capacitar profissionais para atuar na área, mercado de trabalho em crescimento. A PUCRS começa no próximo ano curso de graduação em segurança pública, com 40 vagas, seguindo iniciativa pioneira da Universidade Federal Fluminense (UFF), em 2012. O sociólogo Rodrigo de Azevedo, estudioso do assunto e futuro professor da graduação, avalia que há movimentação nacional para criar bacharelados na área para preencher a lacuna de qualificação diante dos desafios cada vez maiores de oferecer segurança.
– O profissional egresso deste curo será capacitado ao diagnóstico, planejamento e execução de politica de segurança, seja em órgãos públicos, do terceiro setor ou iniciativa privada – explica Azevedo.
A formação será compartilhada com matérias como Direito, Sociologia e Administração.
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