
O Porto Alegre Hostel Boutique, no bairro Floresta, foi o último avaliado por Zero Hora para a série de reportagens sobre os hostels de Porto Alegre. Veja o resultado:
Dia 6 - Porto Alegre Hostel Boutique
Check in - 17h30min
Check out - meio-dia
Nunca dei muita bola para o nome do lugar na hora de escolher hospedagem. Ou seja, particularmente, não estava de olho na boutique que compõe a alcunha do Porto Alegre Hostel, no Floresta, até fazer o check in no local.
Ao cruzar a porta do antigo casarão na Rua São Carlos, no entanto, adentrei um mundo quase à parte quando o assunto é pernoite barato. O hostel, que ocupa um casarão histórico, tinha cara e jeito de hotel. Dia 1 - Eco Hostel: viajantes deixam sua marca rabiscada nas portas e janelas
Dia 2 - Porto Tchê: bairrismo acolhedor envolve turistas na cultura gaúcha
Dia 3 - Casa Azul: bom para se divertir, difícil de dormir
Dia 4 - Bom Fim: culturas ricas e café modesto
Dia 5 - Porto do Sol: invasão australiana reforça clima de casa de praia
A começar pelo espaço físico: os quartos são amplos para o número de camas. O que me abrigou comportaria com facilidade quatro beliches, mas tinha apenas dois. As roupas de cama levam a logomarca do local, e os banheiros oferecem sabonete para lavar as mãos e toalhas para secar - coisas simples que, em se tratando de albergues, beiram o ineditismo.
Logo parti para o primeiro desafio: curtir um chimarrão sentada em frente a um freezer recheado de cervejas artesanais. Em minutos viria o golpe derradeiro, o cheiro delicioso de um prato não identificado sendo preparado na cozinha da Bruschetteria.
Isso mesmo, amigos. Nada de enroladinho de salsicha, pastel ou torrada. O restaurante que ocupa o andar térreo do hostel é especialista em bruschettas, os delicados pãezinhos tostados cobertos com tomate e manjericão ou algum tipo de queijo, ou outro ingrediente à escolha do chef.
Gráfico interativo: veja a avaliação dos hostels de Porto Alegre visitados por Zero Hora
Fugi da tentação de ingresar em um happy hour solitário me acomodando nas cadeiras altas em frente à TV, junto ao bar. Depois da euforia de Holanda x Austrália, o movimento era tímido - provavelmente pela exaustão de parte dos hóspedes que tinha caído na farra de manhã.
Sentado ao meu lado, um trio de paulistas dividia-se entre a caça a garotas em um aplicativo de celular e comentários sobre os impressionantes "tanquinhos" dos jogadores camaroneses - em nível de comparação, no caso. Me pediram uma indicação de balada e sugeri que percorressem a Cidade Baixa. Eles agradeceram dizendo que preferiam a Padre Chagas, onde o pessoal era mais "arrumadinho".
Aos poucos, dois perfis de hóspede até então inéditos nesta série começavam a se apresentar: famílias e casais. Enquanto alguns paravam para comer no restaurante - a maioria optou pela boa e velha pizza em vez das bruschettas -, outros seguiam para a cozinha ou rumo a seus quartos. Senti falta da costumeira interação entre hóspedes dos albergues.
Apesar da boa estrutura, o sono não foi dos melhores. Minha única companheira de dormitório parecia bem resfriada e, por conta disso, resolvi abrir mão do ar condicionado ali instalado na noite mais fria da semana. Sonhei com o banho quente do dia seguinte.
Pela manhã conheci Dora, a colombiana que dormia na cama ao lado. Moradora de Viamão, onde trabalha como agricultora, contou-me ter ido para o hostel para evitar a interação com um visitante indesejado em seu sítio.
Vestida apenas com uma calça de tecido leve, camiseta e um poncho curto, ela tentava me encorajar a encarar a temperatura invernal - os termômetros na rua não alcançavam os 5ºC - para acessar o chuveiro: "O frio é só uma sensação", dizia. Seu estado de saúde não inspirava muita credibilidade, mas tomei coragem e rumei para o banheiro.
Para minha decepção, o chuveiro, logo ele, era a coisa menos boutique do hostel. O modelo elétrico se recusava a aquecer decentemente, mesmo na temperatura mais quente. Por outro lado, nunca tomei um banho tão rápido: em cinco minutos estava vestida.
De volta ao dormitório, deparei com uma feira livre sobre a escrivaninha: bergamotas, maçãs, castanhas e até erva de chimarrão deixadas pela colombiana para quem quisesse pegar. Um garoto falando em espanhol foi o primeiro a aparecer. Comeu uma bergamota por ali enquanto escolhia outras frutas. Dora presenteou-me com uma maçã: "Para cada uma, um ano a mais na vida", disse.
Desci para o café da manhã, servido na Bruschetteria. Até tentei me contentar com os pães, bolo e frutas e focar na torrada com café com leite como boa adulta que sou. Mas estava hipnotizada pelo enorme pote de sucrilhos sobre o balcão.
Os pequenos aros coloridos que se exibiam para mim venceriam, eu sabia. Com o máximo de discrição que consegui, servi um pouco em um pote, cobri com leite e voltei à mesa. Exigiu algum contorcionismo mantê-lo protegido de possíveis olhares zombatórios dos hóspedes, mas: que grande alegria matinal.
Ainda estava sob efeito de meu prazer clandestino quando fui buscar minha mochila no quarto para o check out. No caminho, deparei com um homem lendo jornal em um dos bancos do jardim. Folheava-o com a mão direita, enquanto na esquerda carregava, impunemente, um pote de sucrilhos com leite. Fui embora digerindo meu pudor exagerado.
Em vídeo, veja o que os estrangeiros acharam da mais tradicional bebida gaúcha:
Sobre a série:
Para avaliar o serviço de hospedagem que, aos poucos, deixa de ser novidade na Capital, ZH virou mochileira por duas semanas. Ao longo deste período, a reportagem se hospedou nos seis hostels indicados pela Secretaria Municipal de Turismo a quem vem a Porto Alegre.
Sem aviso prévio, Porto Alegre Eco Hostel, Hostel Porto Tchê, Casa Azul Hostel, Bom Fim Hostel, Hostel Porto do Sol e Porto Alegre Hostel Boutique abrigaram uma jornalista por uma noite, às vésperas da Copa ou durante o Mundial.